Artigo

Caridade

Pilar
Doar
Artigo
Publicação em
30/10/2019

Caridade

Sirva-nos a todos, cristãos, maometanos, judeus, indianos, religiosos e ateus, portadores de crença ou vivendo sem ela, a lição que nos ofereceu com sua existência ímpar, amando-nos e respeitando-nos, ajudando-nos reciprocamente, pois que fora da caridade não há salvação.

Estamos vivendo os dias gloriosos da santificação de Irmã Dulce pela veneranda Igreja Católica Apostólica Romana.
Santificada foi toda a sua existência, em razão do seu inefável amor e socorro aos aflitos que passavam pelos seus múltiplos caminhos ricos de misericórdia.
Conheci-a, faz muitos anos. Éramos, então, muito jovens.
Foi na década de 1950 aproximadamente, quando a vi atendendo a um enfermo que o ajudava, quase carregando-o sobre as costas frágeis.
Ofereci-me para ajudá-la e ela sorriu, agradeceu.
Não a conhecia naquela época. Lentamente os seus exemplos de santa foram-se tornando populares, por atender especialmente os que se encontravam nas ruas sob as marquises dos edifícios ou nos alagados do bairro do Uruguai.
O seu vulto frágil e o seu sorriso angélico eram a presença de Jesus, junto aos Filhos do Calvário.
Intimorata e invencível, não se deixou abater pelos desafios do materialismo, pela perversidade da noite das paixões asselvajadas, pelas enfermidades, pelo descaso de muitos e sua indiferença, pela crueldade…
Com a mansidão de cordeiro sensibilizou milhares de pessoas por ela convidadas ao amor, e com a luz da caridade iluminou e salvou vidas que se lhe entregaram em totalidade.
Não possuindo coisas era detentora do amor de Jesus que soube disseminar com elegância e altivez, tornando-se porto de segurança aos nautas perdidos no oceano tumultuado do abandono terrestre.
Visitei-a mais de uma vez, a fim de banhar-me na suave claridade da sua ternura e comovi-me com o seu exemplo de fé e abnegação, por sentir-me iniciante da Vida sem coragem para enfrentar os dissabores por amor à humanidade.
Aprendi a amá-la à distância, orando pelo seu holocausto em favor do mundo de paz e de justiça, de fraternidade e de equilíbrio.
Nestes passados anos, após a sua libertação do corpo, acompanhei as notícias da sua beatificação e posterior santificação, conforme os cânones e leis da sua Igreja.
Exemplo moderno da caridade recomendada por Jesus-Cristo e disseminada pelo apóstolo Paulo, ela superou as técnicas de assistência e serviço social, dignificando e promovendo os nossos irmãos em agonia, recurso que somente o amor consegue proporcionar.
Nestes dias de angústia e de sofrimento generalizado necessitamos de incontáveis Santas Irmãs Dulce, a fim de que recuperemos a honra que abandonamos e vivamos a ética do amor que pode salvar o ser humano da sua inferioridade moral.
Sirva-nos a todos, cristãos, maometanos, judeus, indianos, religiosos e ateus, portadores de crença ou vivendo sem ela, a lição que nos ofereceu com sua existência ímpar, amando-nos e respeitando-nos, ajudando-nos reciprocamente, pois que fora da caridade não há salvação.

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 17 de outubro 2019.